Um café com… Luis Ganhão Simões, Responsável Projecto Packaging na The Navigator Company.

um café com... luis ganhao

Empack e Logistics & Automation Porto: Tendo em conta a sua carreira profissional, quais foram, na sua opinião, os maiores desafios que enfrentou e quais os projetos que recorda ou que destacaria na sua carreira profissional?

Luis Ganhao Simoes: Eu fui contratado em Maio de 1998, depois de terminar o curso de Engenharia Química, no Instituto Superior Técnico, para trabalhar como Engenheiro de Processo e Produto, na então chamada, Soporcel – Sociedade Portuguesa de Celulose e Papel, fábrica de pasta e papel localizada na Figueira da Foz.

Portanto, prestes a concluir 26 anos de ligação a esta empresa, que passou já pela denominação de grupo Portucel Soporcel, depois da aquisição realizada pela Portucel à Soporcel, é agora a “The Navigator Company”.

Os desafios foram de facto muitos e de natureza diversa ao longo deste período, onde assumi várias funções técnicas e comerciais desde a minha entrada como Engenheiro de Processo e Produto, nomeadamente, Desenvolvimento de Produto, Assistência Técnica ao Mercado, Vendas (em África e Europa), Gestão de grandes contas transnacionais, mas diria que o maior desafio foi o iniciado em 2021, após convite da Administração no sentido de encetar um novo esforço de diversificação de negócio (e de risco), no fundo o desenvolvimento de uma nova unidade de negócio de A a Z, o “Projecto Packaging”.

 

EeL&A Porto: Como é o dia-a-dia de um Head of Packaging Project?

Luis Ganhao Simoes: O dia-à-dia de um responsável por um projeto deste tipo, é marcado por uma forte interação com a maioria das áreas operacionais, e raramente existem dois dias iguais. Desde o acompanhamento dos temas de desenvolvimento de novos produtos, adaptações industriais, custos de produção, estratégia de vendas (aproximação ao mercado), identificação e abordagem a potenciais clientes, testes no mercado, participação nas primeiras negociações…e como é lógico o acompanhamento e otimização da rentabilidade do negócio. Ou seja, a rotina é a não existência de rotina!

 

EeL&A Porto: Na sua opinião, quais os desafios atuais mais pertinentes no sector da embalagem em Portugal?

Luis Ganhao Simoes: Os desafios são de facto muitos, mas deixarei um desafio geral (talvez o maior de todos atualmente), e outro particular ou específico. Nenhum dos dois é exclusivo de Portugal, e diria que todos (ou a maioria dos países) se debatem com eles atualmente.

 

De forma geral, todos sentimos existir uma preocupação transversal e crescente com a poluição causada pelo excesso de consumo, e a utilização massiva de utensílios e embalagens plásticas, de origem fóssil, e, portanto, não biodegradáveis, e compostáveis.

As imagens catastróficas da contaminação dos oceanos, rios, lagos, como de ecossistemas terrestres, e as suas consequências têm “chocado” o Mundo.

Esta tomada de consciência tem levado a um movimento no sentido da “desplastificação”, sobretudo em termos de embalagens de FMCG, alimentares e não-alimentares, mas sobretudo o foco tem incidido sobre as primeiras.

Essa preocupação é assumida também em Portugal e esse fenómeno vai ganhando cada vez mais expressão. No entanto, esta justificada migração “From Fossil to Forest” (que é o ashtag da marca gKRAFT), no sentido da sustentabilidade tem vários desafios críticos, como por exemplo,

i) Desenvolvimento de produtos papel/fibra com melhores, ou pelo menos as mesmas, performances funcionais (que as anteriores á base de plástico). A resistência à humidade, à gordura, à passagem de oxigénio ou luz, e a Termo selagem são algumas dessas propriedades, vulgarmente referidas como barreiras funcionais sustentáveis.

 

ii) Adaptação de equipamentos/linhas de produção compatíveis com embalagem de papel.

 

iii) Quantidade de desperdício gerado (vs plástico), levando à otimização do design e criteriosa escolha dos materiais.

 

iv) Qualidade do desperdício gerado, sempre que o material utilizado é um produto “complexado” com outros produtos, nomeadamente incorporando por exemplo papel kraft, polietileno, alumínio.

 

v) Circuitos de recoleção, valorização, reciclagem

 

vi) Experiência do consumidor final

 

vii) Etc. (apenas para mencionar alguns…)

 

Particularmente, a utilização de papeis “reciclados” (produzidos com incorporação de pasta reciclada) em embalagens alimentares, sobretudo as que estão sujeitas a contacto direto com os alimentos é outro dos temas que merece seguramente maior foco e determinação regulatória, por parte de UE, e legislativa por parte dos seus estados-membros.

Os produtos reciclados contêm em regra quantidades relevantes de químicos nocivos, Bisfenóis (ie. BPAs), e Óleos Minerais (ie. MOSH, MOAHS), comparativamente aos papeis produzidos com vibra virgem, superiores por vezes em largas dezenas ou centenas de vezes, quando maioria das vezes os papeis de fibra virgem não apresentam qualquer presença, assim como geralmente presença bacteriológica/microbiológica assinalável.

Existem, no entanto, já exceções, que manifestam maior responsabilidade, como é o caso de Itália, que proibiu completamente o uso de papeis reciclados, em embalagens que permitam contato direto com alimentos.

 

EeL&A Porto: De que forma/s é que a The Navigator Company esta a ter iniciativas e desenvolver os seus negócios de uma forma mais sustentável e amiga do ambiente?

Luis Ganhao Simoes: A The Navigator Company é uma referência a nível da Sustentabilidade, a todos os níveis e, portanto, planeia, trabalha e investe continuamente no sentido de deixar um Mundo melhor às gerações futuras.

Os seus objetivos de melhoria estão alinhados com dois aspetos chave,

i) Clima e Natureza, em que os objetivos principais são,

a. preservar e valorizar o capital natural, implicando múltiplos projetos em curso, por exemplo de preservação de habitats, manutenção da biodiversidade, redução de consumo de água, de aumento das áreas florestais certificadas (e consumo de madeira certificada), assim como projetos de redução e valorização de resíduos.

b. e o investimento em soluções de baixo carbono rumo á neutralidade carbónica. A empresa assumiu ambiciosamente atingir a neutralidade carbónica em 2035 (15 anos antes da meta dada pela EU, e investindo 200 M€). Partindo de valores de 2018 esta decisão significa uma redução de 86% (!) das emissões diretas de CO2, a partir das suas fábricas.

 

ii) Sociedade, onde os principais objetivos, passam por desenvolver as nossas pessoas, envolver as comunidades e partilhar valor com a Sociedade de forma justa e inclusiva. Por exemplo, mais de 80% das pessoas na Navigator têm planos de desenvolvimento.

 

No fundo, o resultado desta atuação, responsável, é avançar para um negócio cada vez mais responsável.

 

Fica claro que o propósito que temos na Navigator são as pessoas, a sua qualidade de vida, e o futuro do planeta, e é isso que nos move e nos inspira. Queremos partilhar com a Sociedade não apenas os nossos resultados, mas o nosso conhecimento, experiência e recursos, na procura de um futuro melhor para todos.

 

O gKRAFT é também uma resposta nesse sentido, no sentido da Sustentabilidade!

 

EeL&A Porto: Está particularmente entusiasmado com algum projeto ou iniciativa recentemente desenvolvida pela a The Navigator Company?

Luis Ganhao Simoes: O desenvolvimento do negócio de Packaging da “The Navigator Company”, e a afirmação da marca gKRAFT no mercado são fortes motivos de entusiasmo, não apenas pessoais, mas transversalmente assumidos pelas várias áreas da empresa e equipas. As pessoas que diariamente colaboram no desenvolvimento deste negócio aos vários níveis, e são muitas, são a razão do sucesso da entrada da empresa no negócio de Packaging, e do gradual reconhecimento e apreciação da marca gKRAFT.

Por isso, diria que o meu entusiasmo, é resultado também desse entusiasmo coletivo.

 

Agradeço o convite lançado pela Easyfairs/ Empack e Logistics & Automation Porto para esta entrevista.

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