Portugal na rota estratégica da Europa
Setor da logística e dos transportes nacional responde com investimento, inovação e uma ambição clara: afirmar o país como hub logístico europeu até 2030.
A instabilidade geopolítica, as pressões ambientais, a transformação digital e a necessidade de resiliência das cadeias de abastecimento estão a redesenhar a forma como as economias funcionam e como os países se posicionam no mapa global. Portugal, pela sua localização e pelos investimentos em curso, tem hoje a oportunidade de afirmar-se como hub logístico europeu, mas enfrenta também desafios profundos que exigem visão estratégica, políticas públicas consistentes e capacidade de execução.
A turbulência internacional é o primeiro fator a ter em conta. O bloqueio do Mar Vermelho, a guerra na Ucrânia e as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China estão a provocar mudanças estruturais nas cadeias de abastecimento. Para Nuno Gaspar, senior manager da Capgemini Portugal, os dados são claros e segundo o estudo Navigating Uncertainty with Confidence, do Capgemini Research Institute, 89% dos inquiridos consideram que estas disrupções são o principal risco para o crescimento. Face a este contexto, as empresas em Portugal e na Europa estão a adotar estratégias que passam pela diversificação de fornecedores e parceiros logísticos, pelo investimento em tecnologia para ganhar visibilidade e agilidade, pela aposta em modelos de nearshoring e friendshoring, e pelo reforço da sustentabilidade e da eficiência operacional.
Mais do que garantir o funcionamento das cadeias de abastecimento, estas opções representam um passo decisivo para manter a competitividade num ambiente volátil, onde custos, prazos e qualidade podem ser comprometidos a qualquer momento.
Ambição de hub logístico europeu
Porém, os desafios são também oportunidades. “Portugal tem condições únicas para se afirmar como um hub logístico europeu até 2030”, afirma Nuno Gaspar. A localização estratégica no Atlântico, os investimentos em portos, ferrovia e corredores verdes e a Estratégia Portugal 2030 criam um contexto favorável. O Parque Logístico Euro-Atlântico e o corredor marítimo verde são exemplos de projetos que reforçam esta ambição, enquanto a integração dos territórios de baixa densidade e a aposta em inovação alargam a rede de valor.
O país pode tornar-se uma “porta atlântica” para a Europa, mas esse caminho exige mais do que obras de infraestrutura. A aceleração da digitalização e a integração de tecnologias disruptivas requerem parcerias público-privadas robustas. Para a Capgemini, há áreas prioritárias: plataformas integradas de cadeia de abastecimento, acesso partilhado a dados públicos, soluções nativas em cloud e potenciadas por IA, criação de corredores logísticos verdes e, não menos importante, formação e desenvolvimento de competências em automação e robótica.
Da eficiência à resiliência
Até há poucos anos, a eficiência era o critério dominante no desenho das cadeias logísticas. Hoje, a resiliência tornou-se tão importante quanto a eficiência. O nearshoring, a diversificação de fornecedores e o planeamento de cenários são práticas que já se tornaram centrais para os decisores. A reindustrialização é outra tendência que ganha tração, com empresas a trazerem produção de volta ao espaço europeu, numa tentativa de reduzir riscos e recuperar controlo.
Para Afonso Jubert Almeida, presidente da APLOG, a resiliência deve ser trabalhada em várias frentes. “As empresas devem investir em novas tecnologias, diversificar fontes de receita, otimizar custos e manter uma gestão de tesouraria saudável”, explica. A resiliência, acrescenta, é também uma questão cultural e estratégica: “Trata-se de promover inovação constante, alinhar a organização com o ambiente externo e investir em sustentabilidade.”
A APLOG tem procurado acompanhar este movimento, promovendo formação, estudos e parcerias com a academia e dinamizando o seu Congresso anual. Os KPIs e métricas variam entre empresas, mas a associação posiciona-se como facilitadora de conhecimento para aumentar eficiência, competitividade, sustentabilidade e inovação.
Regulação, incentivos e intermodalidade
Se há consenso no setor, é de que o enquadramento regulatório e os incentivos públicos podem acelerar a transformação. A APLOG defende mais incentivos fiscais para a renovação de frotas e eletrificação, linhas de cofinanciamento para armazéns energeticamente eficientes, infraestruturas de carregamento elétrico e apoio a projetos de I&D. Soma-se a necessidade de simplificação aduaneira e fiscal, para reduzir a burocracia e permitir que as empresas planifiquem a médio prazo.
Outro ponto crítico é a integração multimodal. A articulação eficaz entre transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo pode reduzir custos, tempos de trânsito e emissões. Portugal tem aqui uma oportunidade estratégica para reforçar a sua posição como plataforma atlântica, especialmente se apostar em plataformas intermodais, digitalização e ferramentas avançadas de gestão. A ferrovia e os portos, em particular, assumem um papel vital para cumprir metas de descarbonização e aumentar a competitividade.
A necessidade de planeamento estratégico no prazo de cinco a dez anos é outro ponto central. A APLOG aponta como prioridades a modernização e eletrificação da ferrovia, o reforço da alta velocidade, a modernização dos portos de Sines, Leixões e Lisboa, bem como a melhoria das ligações rodoviárias entre centros logísticos e portos e o desenvolvimento de parques logísticos intermodais, como o porto seco da Guarda.
A colaboração entre operadores ainda encontra barreiras culturais e regulatórias. Como sublinha a APLOG, nem sempre é fácil partilhar armazéns ou plataformas digitais entre empresas concorrentes, sobretudo no caso das PME. Ainda assim, há sinais positivos, como a partilha de rotas de distribuição entre transportadoras em algumas regiões, reduzindo custos e emissões.
O movimento de reaproximação das cadeias de abastecimento à Europa abre oportunidades relevantes para Portugal. Afonso Jubert Almeida sublinha que “após a pandemia, ficou claro que a dependência excessiva da Ásia expôs fragilidades.” Setores como data centers (caso de Sines), automóveis elétricos e baterias, agroalimentar, retalho não alimentar e e-commerce são identificados como áreas de maior potencial. O Brasil e vários países asiáticos estão entre os que já olham para Portugal como destino de investimento.
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