Um café com… Noa Llusia, Global Public Affairs Manager na Mondelēz International
Noa Llusia Juanes é uma profissional com mais de 15 anos de experiência em comunicação corporativa, assuntos públicos e sustentabilidade (ESG). Atualmente, ocupa o cargo de Global Public Affairs Manager na Mondelēz International, onde lidera estratégias de advocacy e posicionamento institucional em temas-chave de políticas públicas, com uma sólida experiência em mercados como Espanha, Portugal, França, Bruxelas e Estados Unidos.
Ao longo da sua carreira, Noa dirigiu campanhas de comunicação interna e externa, representou a empresa junto de associações setoriais e internacionais de alto nível, geriu situações de crise e apoiou processos estratégicos de transformação empresarial, como fusões, aquisições e desinvestimentos. Trabalhou também em estreita colaboração com equipas de liderança e distingue-se pela sua visão estratégica, pela capacidade de liderança em contextos multiculturais e pela compreensão profunda das dinâmicas locais e globais.
Licenciada em Jornalismo pela Universidade Antonio de Nebrija e com um Mestrado em Marketing e Comunicação pela ESIC, Noa fala espanhol, inglês e francês. Fora do âmbito profissional, é professora certificada de ioga e tem colaborado com diversas causas sociais, nomeadamente em organizações que promovem o comércio justo e o apoio a mulheres em comunidades desfavorecidas.
Empack e L&A Porto: Noa, conte-nos um pouco como é o seu dia a dia na empresa e em que consiste o seu papel na Mondelēz.
Noa: O meu dia a dia na Mondelēz é muito dinâmico, nenhum dia é igual. Como o próprio título indica, faço parte da equipa de Public Affairs, o que significa que estou em contacto permanente com o contexto institucional e regulatório, especialmente a nível europeu. Em outras palavras, o meu trabalho consiste em ser a ponte entre o que se decide em Bruxelas, em termos de políticas e regulações, e as prioridades e necessidades da nossa empresa.
Desta forma, a minha função é garantir que conseguimos antecipar mudanças legislativas, interpretá-las corretamente e traduzi-las para o negócio de modo a estarmos preparados para nos adaptarmos e continuar a crescer de forma sustentável. Acompanhamos de perto as políticas que afetam o setor alimentar, nomeadamente as relacionadas com sustentabilidade, embalagens e rotulagem, entre outras.
Além disso, a nível europeu, participo ativamente em fóruns setoriais, colaboro com associações da indústria e mantenho um diálogo constante com as instituições. Estes espaços de troca são fundamentais não só para representar a nossa visão como empresa, mas também para ouvir, aprender e procurar soluções conjuntas.
Em suma, o objetivo é construir uma relação de confiança mútua que permita que a regulamentação e a sustentabilidade avancem em paralelo com o crescimento económico e a capacidade de inovação do setor privado.
Empack e L&A Porto: A partir da área de Public Affairs, como encaram o diálogo com as instituições europeias em temas centrais como sustentabilidade, rotulagem ou legislação sobre embalagens?
Noa: A nossa abordagem baseia-se sempre no diálogo e na colaboração. Na Mondelēz acreditamos que é essencial fazer parte da conversa desde o início, não apenas para partilhar a nossa experiência, mas também para ouvir e aprender com outros intervenientes-chave, como legisladores, ONGs, associações setoriais e especialistas técnicos. Cada perspetiva ajuda-nos a compreender melhor os desafios comuns e a identificar oportunidades.
Um bom exemplo é o novo Regulamento Europeu sobre Embalagens e Resíduos de Embalagens (PPWR), que representa uma mudança significativa para toda a indústria. Na Mondelēz apoiamos plenamente o seu objetivo de reduzir o impacto ambiental das embalagens, mas também temos consciência de que a sua aplicação traz desafios importantes em termos operacionais, de investimento e de adaptação ao longo de toda a cadeia de valor.
Por isso, participamos ativamente na legislação secundária, partilhando experiências concretas e propostas que contribuam para uma implementação eficaz e realista. Consideramos fundamental que haja maior clareza sobre aspetos técnicos do regulamento e que se evite uma carga administrativa excessiva.
Empack e L&A Porto: O packaging está no centro do debate atual entre funcionalidade, imagem de marca e sustentabilidade. Que abordagem está a adotar a Mondelēz para avançar rumo a embalagens mais sustentáveis sem comprometer a experiência do consumidor?
Noa: Na Mondelēz temos muito claro que avançar para embalagens mais sustentáveis não implica abdicar da funcionalidade nem da experiência do consumidor. Pelo contrário, acreditamos firmemente que sustentabilidade, qualidade e design devem caminhar lado a lado e reforçar-se mutuamente.
Definimos como meta para 2025 que 100% das nossas embalagens sejam concebidas para serem recicláveis, e já estamos a incorporar materiais reciclados nas nossas soluções de embalagem. Um exemplo concreto: a partir deste ano, as nossas tabletes Cadbury, na Irlanda, passarão a utilizar 80% de plástico reciclado certificado, um avanço significativo na redução do uso de plástico virgem.
Além disso, as nossas embalagens são desenhadas para proteger a qualidade do produto, evitar o desperdício alimentar e reduzir a pegada de carbono ao longo de todo o ciclo de vida — sem comprometer a experiência do consumidor. Assim, continuamos a oferecer embalagens práticas, seguras e alinhadas com a identidade visual que define as nossas marcas icónicas.
Mas estamos conscientes de que a circularidade não depende apenas do design. Melhorar a infraestrutura de recolha e reciclagem é fundamental. Por isso, colaboramos ativamente com os nossos fornecedores, com associações europeias como a CEFLEX e a EUROPEN, e com as administrações públicas, para ajudar a construir um sistema coordenado, eficiente e de grande escala.
Empack e L&A Porto: E olhando para o panorama europeu atual, com novas normas a caminho e uma cidadania cada vez mais consciente, que papel desempenham eventos como a Empack neste processo de transformação do setor?
Noa: Este tipo de eventos é fundamental para o setor. São espaços onde se reúnem diferentes atores-chave da indústria — empresas, instituições, especialistas, startups — com os quais partilhamos desafios e procuramos soluções. Ter fóruns de debate onde possamos trocar ideias, conhecer boas práticas e trabalhar em conjunto é mais necessário do que nunca.
Num contexto como o atual, com novas regulamentações europeias e uma cidadania cada vez mais consciente e comprometida com a sustentabilidade, estes encontros são essenciais como ponto de referência. A gestão dos resíduos de embalagens é crucial e todos os intervenientes da cadeia devem contribuir naquilo em que podem gerar impacto.
Por outro lado, estes eventos oferecem também a oportunidade de mostrar os avanços reais que já estão a acontecer na indústria, inspirar-nos com soluções inovadoras e fortalecer colaborações que acelerem a transição para modelos mais circulares.
Empack e L&A Porto: E para terminar este café… Se pensarmos no futuro do packaging na indústria alimentar, o que gostaria que fosse uma realidade dentro de 5 ou 10 anos em termos de sustentabilidade, regulação ou impacto positivo?
Noa: Gostaria que dentro de 5 ou 10 anos a recolha de todos os tipos de resíduos de embalagens fosse uma realidade — este é o primeiro passo para a sua posterior triagem e reciclagem, permitindo dar uma segunda vida ao material. Para isso, todos os atores da cadeia de valor — autoridades, municípios, fabricantes e consumidores — devem contribuir com soluções.
Se conseguirmos que sustentabilidade, inovação e regulação avancem de forma coordenada, estou convencida de que alcançaremos uma mudança profunda, positiva e duradoura. Não se trata apenas de transformar a indústria das embalagens, mas de contribuir ativamente para um modelo de produção e consumo mais responsável, mais eficiente e mais respeitador do meio ambiente.
Devemos caminhar para um mundo com menos resíduos, onde empresas, instituições e cidadãos remem na mesma direção — rumo a uma economia verdadeiramente circular. Porque cada passo, por pequeno que seja, aproxima-nos desse mundo mais limpo, mais justo e mais sustentável.
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