Um café com… Dália Vicente, Key Account Manager na DHL Portugal

entrevista para Un café com... Dália Vicente de DHL Portugal

Empack e Logistics & Automation Porto: Fale-nos de si e do seu trabalho. Como é o seu dia a dia na DHL. Quais são as funções que desempenha?

Dália Vicente: Iniciei funções como Key Account Manager na DHL Portugal em janeiro de 2025, trazendo comigo mais de 20 anos de experiência no setor logístico. A minha principal missão é garantir a gestão estratégica dos clientes atuais da DHL em Portugal, promovendo o seu crescimento orgânico e assegurando níveis elevados de satisfação.

No dia a dia, estou focada em criar relações de proximidade com os clientes, entender as suas necessidades específicas e identificar oportunidades de desenvolvimento e otimização. O meu trabalho exige um acompanhamento contínuo dos clientes e colaboração próxima com as equipas internas, para garantir que entregamos soluções logísticas eficazes alinhadas com os objetivos de cada cliente.

 

Empack e Logistics & Automation Porto: Quais são os principais desafios e oportunidades que identificam atualmente no setor da logística e transporte?

Dália Vicente: O setor da logística e do transporte enfrenta um conjunto de desafios complexos, mas também apresenta oportunidades significativas para inovação e crescimento. Um dos principais obstáculos é a crescente instabilidade nas cadeias de abastecimento, exposta por eventos globais como a pandemia de COVID-19, que evidenciaram as suas vulnerabilidades e a necessidade de reforçar a sua resiliência e capacidade de adaptação. A par disso, o aumento generalizado dos custos, tanto em termos energéticos como de obtenção de matérias-primas ou contratação de mão de obra, o setor logístico tem pressionado fortemente as margens das empresas do setor.

Nos últimos anos, a sustentabilidade tem vindo a representar um desafio para o setor, mas também uma prioridade incontornável. Existe uma exigência crescente, por parte do mercado, dos consumidores e das entidades reguladoras, para que as empresas adotem práticas mais responsáveis, reduzindo a sua pegada de carbono e alinhando-se com metas ambientais cada vez mais ambiciosas.

A adoção de tecnologias como a inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT) e a automação é cada vez mais essencial para otimizar operações e responder às exigências do mercado. No entanto, muitas empresas ainda enfrentam dificuldades na implementação eficaz destas soluções.

Outro dos grandes desafios estruturais deste setor é a escassez de mão de obra qualificada, especialmente em funções operacionais como motoristas e profissionais de armazém, tornando assim fundamental que as empresas invistam em novas formas de atração e retenção de talento. Apesar dos desafios, o setor da logística e do transporte apresenta diversas oportunidades promissoras. A inovação tecnológica, por exemplo, tem um papel fundamental na transformação da indústria. A adoção de soluções avançadas permite aumentar a eficiência operacional, melhorar a visibilidade em toda a cadeia de abastecimento e responder com mais agilidade às exigências do mercado.

O crescimento acelerado do e-commerce também representa uma oportunidade clara. A procura por serviços logísticos rápidos, flexíveis e eficientes está a impulsionar a necessidade de modelos operacionais adaptados a este novo paradigma de consumo.

A sustentabilidade, para além de ser um desafio, é igualmente uma oportunidade de diferenciação. As empresas que apostam em práticas sustentáveis têm a possibilidade de conquistar uma posição de liderança e atrair consumidores cada vez mais conscientes do impacto ambiental das suas escolhas. A DHL estabeleceu metas ambiciosas de redução da pegada de carbono e tem investido fortemente na transição para veículos elétricos, bem como no uso de energias renováveis em diferentes fases das operações. Outro vetor de crescimento está na criação de colaborações e parcerias estratégicas. Estas alianças permitem otimizar recursos, melhorar a capacidade de resposta e ampliar a cobertura geográfica através de redes logísticas mais robustas. A expansão para mercados emergentes abre portas a novas oportunidades de negócio, sobretudo em regiões onde a infraestrutura logística ainda está em desenvolvimento, permitindo às empresas posicionarem-se como empresas de referência nestes territórios.

 

Empack e Logistics & Automation Porto: A inovação tem sido uma das marcas da DHL. Pode partilhar connosco algumas soluções ou tecnologias em que estão a apostar neste momento?

Dália Vicente: Sem dúvida que a inovação continua a ser uma das principais apostas da DHL, refletindo-se num forte investimento em soluções tecnológicas que visam melhorar tanto a eficiência operacional como a sustentabilidade das nossas operações.

Um dos focos centrais tem sido a automatização e a robótica. Estamos a implementar sistemas automatizados nos nossos centros de distribuição e armazéns, utilizando robots para automatizar tarefas como a separação, embalagem e classificação de encomendas. Estas soluções aumentam significativamente a produtividade e reduzem o risco de erro humano.

A inteligência artificial (IA) é outra tecnologia com grande impacto, permitindo-nos otimizar rotas de entrega, prever padrões de procura e gerir inventários de forma mais eficiente. Isso traduz-se nos custos, nos tempos de entrega e na qualidade do serviço ao cliente. Em paralelo, a Internet das Coisas (IoT) tem sido aplicada no acompanhamento em tempo real das encomendas, o que nos permite garantir maior precisão no tracking e uma resposta mais rápida em caso de imprevistos. Estamos também a explorar o uso de drones para entregas em zonas de difícil acesso, bem como veículos autónomos — como AGVs (Automated Guided Vehicles) e AMRs (Autonomous Mobile Robots) — para movimentação interna de mercadorias nos armazéns e, futuramente, para entregas urbanas, com potencial para transformar radicalmente a logística de última milha. Além disso, desenvolvemos plataformas digitais que oferecem aos nossos clientes maior visibilidade e controlo sobre os seus envios, promovendo uma experiência mais transparente e eficiente. Por fim, estamos a apostar na tecnologia blockchain como forma de reforçar a segurança e a rastreabilidade em toda a cadeia de abastecimento, minimizando o risco de fraudes e assegurando maior confiança nos processos logísticos

 

Empack e Logistics & Automation Porto: Sustentabilidade é um tema cada vez mais presente. De que forma a DHL está a integrar práticas sustentáveis nos seus serviços e operações?

Dália Vicente: A sustentabilidade é, para além de um desafio e de uma oportunidade, uma das grandes prioridades estratégicas da DHL. Temos vindo a implementar um conjunto de iniciativas concretas para integrar práticas mais responsáveis em todas as nossas operações. A nível global, assumimos o compromisso ambicioso de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Como parte deste percurso, estabelecemos metas intermédias, nomeadamente a redução em 50% das emissões de CO₂ até 2025, comparativamente aos níveis de 2007. Um dos pilares dessa estratégia passa pelo investimento contínuo numa frota de veículos elétricos, incluindo carrinhas de entrega e bicicletas de carga, especialmente adaptadas para zonas urbanas, onde a redução de emissões tem um impacto mais imediato na qualidade do ar e no bem-estar das comunidades.

Paralelamente, estamos a trabalhar para que os nossos centros de distribuição e escritórios funcionem com 100% de energia proveniente de fontes renováveis, através da instalação de painéis solares e da aquisição de energia verde. Ao nível das embalagens, temos vindo a adotar soluções mais sustentáveis, apostando em materiais recicláveis e na redução do uso de plásticos. Também estamos a promover o uso de embalagens reutilizáveis, tanto internamente como junto dos nossos clientes. Para além disso, recorremos a tecnologias avançadas e à análise de dados para otimizar rotas de entrega, reduzindo o consumo de combustível e as emissões associadas — uma área onde a inteligência artificial tem desempenhado um papel fundamental. Estamos igualmente a explorar novos modelos de economia circular, promovendo a reutilização e reciclagem de materiais nas nossas operações logísticas.

A par das ações operacionais, acreditamos que a mudança passa também pela sensibilização. Por isso, promovemos a educação e a consciencialização ambiental, tanto junto dos nossos colaboradores como dos clientes e parceiros, incentivando práticas mais sustentáveis ao longo de toda a cadeia de abastecimento.

 

Empack e Logistics & Automation Porto: Como encara o papel de eventos profissionais como o nosso para o desenvolvimento e partilha de conhecimento no setor?

Dália Vicente: Os eventos profissionais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na partilha de conhecimento no setor da logística e do transporte. São espaços privilegiados para o networking, permitindo que profissionais da área se conectem, troquem ideias e estabeleçam relações que muitas vezes se traduzem em colaborações futuras, parcerias estratégicas e novas oportunidades de negócio. Estes encontros são também momentos chave para a atualização de conhecimentos.

Através da participação em conferências, painéis e workshops, os participantes têm acesso às mais recentes tendências, tecnologias e boas práticas, contribuindo para a aprendizagem contínua e a evolução do setor. Muitos eventos servem de palco para a apresentação de inovações e soluções emergentes, permitindo às empresas conhecerem ferramentas que podem otimizar as suas operações e aumentar a competitividade.

Do ponto de vista individual, a participação em eventos representa uma oportunidade valiosa de desenvolvimento profissional e networking. Num setor tão dinâmico como o nosso, os profissionais devem fazer um esforço para se manterem atualizados e estes fóruns são o momento ideal para a aquisição de novas competências.

Outro ponto importante é o reforço da visibilidade do setor. Ao reunir especialistas, líderes e profissionais, os eventos ajudam a destacar o papel estratégico da logística e do transporte na economia global, atraindo a atenção de clientes, dos media e de outros stakeholders relevantes. Para além disso, proporcionam um espaço de discussão sobre desafios comuns — como a sustentabilidade, a digitalização ou a escassez de mão de obra — e a partilha de experiências e soluções, promovendo abordagens mais eficazes e colaborativas. Estes encontros são também fontes de inspiração. Ouvir diretamente os líderes da indústria e especialistas da área pode motivar os profissionais a adotarem novas ideias e estratégias nas suas organizações, impulsionando uma mudança positiva e sustentada.

 

Empack e Logistics & Automation Porto: E por fim: se tivessem de escolher uma palavra para descrever o futuro da logística nos próximos cinco anos, qual seria e porquê?

Dália Vicente: Se tivesse de escolher uma palavra para descrever o futuro da logística nos próximos cinco anos, escolheria “Sustentabilidade”. Esta escolha reflete uma tendência incontornável no setor, impulsionada por diversos fatores. A crescente preocupação global com as alterações climáticas está a pressionar as empresas a adotar práticas mais responsáveis. A logística será cada vez mais orientada para a redução da pegada de carbono e a minimização do impacto ambiental das operações.

Paralelamente, é expectável que as regulamentações governamentais em torno da sustentabilidade se tornem mais exigentes. As empresas do setor terão de se adaptar a essas novas normas para se manterem competitivas e em conformidade legal. Também os consumidores desempenham um papel fundamental nesta transformação, pois são cada vez mais conscientes do impacto ambiental das suas escolhas, optando por marcas que demonstram um compromisso real com a sustentabilidade.

A inovação tecnológica será outro motor essencial nesta evolução. A procura por soluções mais ecológicas está a impulsionar o desenvolvimento de veículos elétricos, embalagens sustentáveis e sistemas avançados de planeamento de rotas que ajudam a reduzir o consumo de combustível. A logística terá um papel central na transição para uma economia circular, apoiando modelos de negócio que privilegiam a reutilização e a reciclagem de materiais, e contribuindo ativamente para a redução do desperdício e a criação de cadeias de abastecimento mais sustentáveis.